quarta-feira, 6 de junho de 2007

Terapia Genética

O século XXI é o século da genética. Nos últimos anos, desde a descoberta da estrutura do DNA até ao sequenciar do genoma humano, o nosso entendimento dos seres vivos e de nós próprios tem vindo a crescer. De tal modo que novas técnicas a serem desenvolvidas neste momento prometem conseguir mais do que talvez pensássemos ser possível…

Muitas das características dos seres vivos e de nós seres humanos são determinadas geneticamente. Desde a cor dos cabelos até doenças problemáticas. Pois bem, acontece que é agora possível fazer alguma coisa em relação a isso! Das várias opções, o programa desta e da próxima semana vão focar duas opções para reduzir os efeitos de doenças genéticas- através da terapia genética e da selecção de embriões.

Mas falando da terapia genética… A terapia genética nada tem a ver com levar os genes ao psicólogo, mas sim de descobrir maneira de mudar os nossos genes… sim, ouviu bem, de mudar os genes! Algumas doenças genéticas são caracterizadas por um grande número de genes, por exemplo alguns tipos de cancro, e a maior parte deles desconhecidos! Uma doença genética deste tipo é impossível de resolver pela terapia genética. Outras doenças, no entanto, são bastante mais simples no sentido de que são determinadas por apenas um gene, ou pelo menos existe um gene que é responsável pela forma mais perigosa da doença. O que os cientistas querem fazer é muito simples, pelo menos em teoria: criar um gene bom sinteticamente e substituir o gene errado no paciente. É claro que a história é muito mais complicada…

Criar um pedaço de DNA com o gene bom é a parte mais fácil. Hoje em dia a sequência da maior parte desses genes é conhecida, e existem aparelhos com a capacidade de sintetizar DNA com a sequência que quisermos. Este DNA é depois inserido num pedaço de DNA circular a que se dá o nome de plasmídeo. Os plasmídeos têm uma enorme variedade de aplicações, e neste caso garantem estabilidade ao DNA e tornam o seu manuseamento mais fácil. Mas como fazer chegar o gene bom até às células? Bem, em primeiro lugar é importante perceber que o objectivo não é fazer chegar o gene a todas as células do organismo, mas apenas a parte daquelas em que a doença se manifesta, numa percentagem suficientemente alta para reduzir os sintomas. Em segundo lugar apesar de simplesmente injectar o DNA puder ser uma opção, a técnica de introdução mais utilizada são os vírus… sim, sim, ouviu bem, usar vírus! Mas atenção, os vírus são modificados de tal modo a que em teoria não causem infecções perigosas nos pacientes. Mas o maior problema nem é esse. Existem vários problemas associados aos diferentes tipos de vectores que podem ser utilizados para a introdução dos genes, desde a incapacidade do gene ser expresso por longos períodos de tempo, e ter efectivamente resultados, até ao perigo de provocar reacções imunitárias… e que não se pense que estes são apenas perigos teóricos! Em 1999, Jesse Gelsinger, um jovem americano de 18 anos submeteu-se a um tratamento experimental para uma doença genética no fígado bastante complicada. Em algumas horas Jesse desenvolveu uma febre que se pensou ser normal, mas em menos de um dia entro em coma e acabou por morrer. Escusado será dizer que todos os testes para a cura dessa doença por terapia genética ficaram imediatamente suspensos.

No entanto, existem algumas doenças para as quais os testes continuam. A imunodeficiência severa combinada é uma doença genética que impede o organismo de produzir anticorpos. Os pacientes são incapazes de se proteger de qualquer tipo de invasão por bactérias ou vírus, e como tal têm de viver num ambiente esterilizado. Não é pois por acaso que estas crianças (já que raramente sobrevivem até à idade adulta) são conhecidas como crianças bolha. Alguns testes foram realizados, e em 2002 de 14 crianças bolha sujeitas a este tratamento, 10 ficaram curadas da doença. Infelizmente, 2 das 10 crianças desenvolveram leucemia. Isto porque o objectivo ideal é que o gene bom que introduzimos seja transportado não só para dentro da célula mas que seja também inserido no genoma da célula, de modo a ter efeitos mais duradoiros. O que parece ter acontecido nestas duas crianças foi que o gene bom foi introduzido num lugar menos bom, activando a expressão de um gene associado ao cancro. Uma das crianças acabou mesmo por morrer. Em Janeiro de 2005 os testes foram retomados, mas infelizmente outra das 10 crianças desenvolveu também um cancro, pelo que futura investigação parece estar temporariamente suspensa.

Uma outra doença para a qual a terapia genética está em fase de teste em humanos é a fibrose cística. Esta doença, uma das mais comuns doenças genéticas que causam redução do tempo de vida, é causada por um canal de cloro que não funciona bem, causando a problemas na produção de muitos dos mucos do organismo. A consequência mais comum é a produção de um muco demasiado espesso nos pulmões, levando à acumulação de bactérias e o desenvolvimento de doenças respiratórias… Os tratamentos já começaram, mas os resultados até ao momento não têm sido promissores… Uma outra doença em fase de teste é a distrofia muscular progressiva…

A terapia genética é uma opção… mas e se fosse possível impedir que crianças com estas doenças nascessem? Não estou a falar de aborto nem de assassínio, mas imagine que a sua família tem um historial de uma certa doença… E se fosse possível, através da reprodução in vitro obter um número de embriões e seleccionar para implantação apenas aquele em que a doença não existisse? Pois bem, a selecção de embriões será o tema da próxima semana!

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