O conceito de selecção de embriões é fácil de entender. Após fertilização in vitro vários embriões são produzidos. Pelo menos um desses embriões tem de ser implantado no útero materno para que um bebé nasça (obviamente). A questão é- que embrião escolher? Claro que podíamos escolher um embrião ao calhas, mas não seria útil escolher o melhor dos embriões, ou pelo menos um embrião que não possuísse alguma das doenças genéticas mais perigosas? Tal escolha seria muito útil, principalmente em famílias em que o risco de uma nova criança possuir um gene causador de uma doença problemática, por exemplo fibrose cística, é bastante grande…
O procedimento é possível… mas será ético? Podemos abordar as questões éticas sob várias perspectivas…
Em primeiro lugar existe toda a importante questão: Será ético seleccionar uma criança em detrimento de outra? Certo, talvez estejamos a condenar uma das potenciais crianças à morte, mas tendo em conta que apenas uma criança irá nascer, não será mais positivo garantir que essa criança não sofra de doenças com graves consequências para a sua sobrevivência, ajudando assim não só a criança como também toda a família? Ultrapassando toda a questão sobre onde começa uma vida, seleccionar embriões sem doenças perigosas parece ser considerado positivo por todos… Mas é claro que esta tecnologia pode ser utilizada para outros propósitos…
Muitas crianças com várias doenças morrem por inexistência de um dador compatível… A opção para muitos pais é conseguir ter um outro filho com informação genética compatível, cujas células, nomeadamente as células estaminais do cordão umbilical, possam ser usadas para transplante… Muitos vezes os resultados são negativos e nenhuma criança é nascida a tempo de salvar o irmão ou irmã doente. Uma opção bastante viável é a selecção de embriões compatíveis à criança doente… No entanto isto involve algumas questões… quais as consequências psicólogicas para uma criança que sabe que apenas foi criada para salvar um irmão? É certo que a intenção é boa, mas serão estas crianças vistas como fonte de peças sobreselentes? Por exemplo, se a criança doente precisa de um rim, será ético sujeitar o irmão saudável a tratamentos algumas vezes invasivos e perigosos apenas para salvar outra criança?
Existem também outras questões… E se por exemplo em vez de seleccionar embriões sem certas características estivermos a selecionar embriões com certas características que consideramos favoráveis? É aqui que entra o medo de que a selecção de embriões possa ser usada para criar ‘designer babies’, bebés digamos perfeitos, selecionados não por não terem certas doenças mas por terem certas características desejáveis… É até possível imaginar pais escolherem bebés por catálogo, escolhendo o sexo, cor dos olhos, QI, etc… note-se, ainda não é possível identificar através dos genes muitas dessas características, mas as possíveis consequências de tal selecção são evidentes, por exemplo, no filme GATTACA, que desde já recomendo que seja visto, devido ao seu interesse, mas não levado demasiado à letra. É certo que hoje em dia existe legislação, pelo menos no Reino Unido, que impede selecção de embriões por razões puramente estéticas… É importante, no entanto, reparar que em Maio deste ano, o organismo regulador em Inglaterra permitiu a selecção de uma doença de nome Congenital Fibrosis of the Extraocular Muscles. Esta doença não é progressiva nem reduz o tempo de vida, e as suas maiores consequências são a perda de visão bifocal e o estrabismo. É certo que esta doença genética não tem cura, e as operações são dolorosas e de poucos resultados… mas será correcto rejeitar embriões apenas devido a algo que possa ser considerado apenas como estético? Onde se deve estabelecer a linha entre o que é aceitável e o que é inaceitável?
E não são. Selecção de embriões baseada em critérios puramente estéticos pode levar a segregação social, pois a mensagem que transmite é a de que certas característics, sejam elas a cor do cabelo ou a obesidade, têm menos valor, e como tal devem devem ser apagadas da população… chegando ao ponto de toda uma discussão se parecer demasiado com os argumentos usados pelos nazis para exterminar certos grupos da população!
Enfim, talvez estejamos a levar a discussão aos seus extremos! No entanto, e antes que tudo seja permitido, é importante analisar com cuidado aquilo que deve ou não ser permitido… e qual o modo de utilizar esta tecnologia para permitir crianças mais saudáveis e felizes, e não a criação de uma sociedade ainda mais discriminatória…