domingo, 13 de maio de 2007

Menopausa e a importância das avós...



A menopausa, mais do que um período complicado na vida de uma mulher é também um enigma evolucionário… de um ponto de vista evolutivo é geralmente esperado que uma determinada característica evolua se contribuir de algum modo para o sucesso reprodutivo ou sobrevivência do indivíduo. E isto por causa da ‘teoria do gene’ sobre a qual já falámos anteriormente. Se um gene contribui para um maior número de filhos então garante uma maior numero de cópias na geração seguinte, e consequentemente mais indivíduos com essa característica… Portanto se observamos alguma característica presente numa espécie, é normal que tentemos perceber de que modo essa característica contribuiu ao longo da evolução para uma maior sobrevivência ou número de filhos. Mas como explicar então algo como a menopausa? A menopausa é por definição um período a partir do qual a mulher deixa de ser menstruada e é portanto incapaz de produzir mais filhos. Até aqui tudo bem. Tendo em conta que o número total de óocitos é determinado e produzido antes do nascimento é normal que a um determinado ponto uma mulher se torne infértil (por oposição aos homens, que produzem esperma ao longo de toda a vida). A menopausa também ocorre noutros animais, de um modo mais abrupto ou gradual. No entanto, apenas em humanos e baleias e outros cetáceos a menopausa ocorre quando existe ainda em média 1/3 de vida para viver.

Como explicar então que a menopausa ocorra quando ainda existe 1/3 de vida que poderia ser ‘utilizado’ na produção de mais filhos? Talvez seja importante aqui fazer um aparte: não estou a tentar dizer que o objectivo da vida de uma mulher é produzir mais e mais filhos, mas é óbvio que na natureza (viva e não viva, e aqui refiro-me aos vírus) o sistema está organizado para sobreviver e reproduzir. Se a nossa recente história enquanto espécie alterou as regras um pouco isso é outra história. É um facto, no entanto, que as mesmas regras se aplicaram ao longo da nossa evolução…

Mas voltando à menopausa. A menopausa ocorre, a mulher vive mais 1/3 da sua vida e não produz mais filhos… Isto pode significar duas coisas: ou a menopausa ocorre demasiado cedo, ou somos nós que vivemos mais tempo do que seria suposto depois da menopausa ocorrer. É pouco provável que a menopausa esteja a ocorrer demasiado cedo, pois a evolução poderia simplesmente ter aumentado o número de óocitos fazendo com que a menopausa ocorresse mais tarde na vida de uma mulher. É mais provável que a menopausa ocorra porque é de algum modo vantajosa… de facto, a gravidez e nascimento são processos custosos e um investimento numa vida mais longa tem óbvias consequências em termos de quanto pode ser investido na sua própria reprodução. No entanto só porque uma mulher não pode ter filhos não significa que não possa contribuir para a transmissão dos seus genes! É aqui que entra a chamada ‘Grandmother hypothesis’, ou a hipótese da avó. Basicamente as avós são capazes de aumentar a sua contribuição genética para as gerações futuras cuidando dos netos, já que estes partilham pelo em média ¼ dos seus genes. Essa ajuda poderia ser dada através do cuidado directo das crianças ou pela recolha de alimentos ou mesmo auxílio nas árduas tarefas domésticas, dando mais tempo livre às mães…

E isto não é uma situação que tenha ocorrido no passado e seja obsoleta agora. Um recente estudo em populações canadianas e finlandesas têm mostrado que uma avó vivendo perto ou na casa das suas filhas tem um efeito positivo no número de netos que sobrevive até uma idade independente.
Note-se, no entanto, que é apenas referido o efeito positivo das avós no esforço reprodutivo das suas filhas… Mas não poderiam as avós ajudar filhas e filhos? Alguns autores sugerem que tal talvez não fosse favorecido ao longo da evolução devido ao facto de uma avó nunca poder ter a certeza completa que os netos são realmente seus (afinal as noras nem sempre são fiéis aos seus maridos). E isto de facto observa-se em populações reais. Num estudo realizado na Etiópia cientistas observara, que as avós mais facilmente deixavam a sua aldeia para visitar e ajudar uma filha do que um filho…

Enfim, isto pode levar algumas mães a pensar duas vezes antes de decidir morar longe da sua mãe…


The two original papers:
- Gibson M., Mace R. (2005). Helpful grandmothers in rural Ethiopia: A study of the effects of kin on child survival and growth, Evolution and Human Behavior, 26. pp 469-482
- Lahdenperä M., Lummaa V., Helle S., Tremblay M., Russel A. (2004). Fitness benefits of prolonged post-reproductive lifespan in women, Nature, 428 (6979). pp 178-181

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